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David Bowie: uma biografia sentimental

Quiçá se devesse chamar uma biografia sexual.


David Bowie foi um nome incontornável no mundo da música, e continua a sê-lo, mesmo depois da sua morte. Teve uma carreira enorme, e devo infelizmente admitir que nunca ouvi toda a sua música, embora me proponha a fazê-lo. E, no meio de tudo isso, foi extremamente influente, não só enquanto músico, e para outras bandas (como para os Placebo), mas para o mundo em geral.


Influenciou o rock, e o glam rock, e o folk, e a música electrónica, e o pop, apareceu no Twin Peaks, influenciou a moda, desafiou questões de género e permitiu que inúmeras pessoas pudessem ser quem sempre quiseram ser. David Bowie foi um ícone, um herói. E tudo isto me fazia ter mais vontade de aprender sobre o artista, o homem.

Nunca li muitas biografias. Gostava de ler mais, na verdade - e apelo a que me deixem recomendações nesse sentido. Tenho uma mente aberta.

Mas quiçá não tenha uma mente aberta o suficiente para uma biografia que praticamente lista todas as pessoas com quem David Bowie se envolveu sexualmente - é claro que a sua sexualidade foi parte integral da sua carreira, entre as suas declarações quanto à sua orientação sexual e a sua estética andrógina, mas para a autora, Wendy Leigh, parece ter sido a única parte da sua carreira de interesse.

Talvez isto seja injusto: temos uma boa introdução à vida de David Bowie fora do palco, desde a sua infância com pais pouco convencionais, as suas tentativas de singrar no mundo da música ainda adolescente, as suas inclinações culturais, relações com outros artistas e mesmo os seus dois casamentos; mas a verdade é que Leigh foca demasiado na vida sexual de Bowie, de maneira que isso é assunto logo no prefácio. É demasiado prevalente, e torna-se cansativo.

Gostei muito do último terço do livro, quando David Bowie conhece Iman e se casa com ela. Iman parece também ser uma pessoa fascinante, interessante, e com a sua própria história para contar: nascida na Somália, filha de um diplomata, licenciada em Ciência Política.

O livro estava também repleto de frases e episódios relatados por pessoas que tiveram a oportunidade de conhecer e privar com David Bowie, e muito pouco conteúdo do próprio; não digo que o livro tenha sido desinteressante: é só que não focou muito na música dele, no seu processo criativo, na carreira dele. Talvez seja mais um livro para quem tem um fascínio pelo homem, não pelo artista: e percebo ambos os lados, porque David Bowie, além de um ícone no mundo da música, era também um indivíduo fascinante. E, para quem quer uma imagem simples da vida dele, não entrar muito pelo seu trabalho, este é um livro excelente.

Se, por um lado, fico com pena de não ter focado noutras partes da vida do artista, por outro questiono-me até que ponto biografias sobre David Bowie irão focar-se na sua vida sexual; nunca tendo lido outra, não posso formar qualquer comparação. Não fiquei exactamente desiludida, mas enquanto alguém que gosta de música, esperava que tivesse tomado outra direcção.

3/5

Podem comprar esta edição aqui.


Maratona Literária de Verão 2017: 1380 pág.

Comentários

  1. Não perdoas, tinhas de meter um vídeo dos Placebo :p

    Gostei da review, mas realmente com um artista como o David Bowie espera-se mais de uma biografia

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    1. Eu acho que é um livro bom para quem quer simplesmente saber algo sobre a vida dele! Não sabia da sua infância, do seu background, etc, e este livro fornece essa parte - queria é que tivesse talvez focado mais no contributo que ele teve para a música em si!

      Oh :p

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  2. Ultimamente sinto que só leio biografias... São é de pessoal inglês, de há 4 ou 5 séculos atrás :D
    Acho que de uma biografia não se pode esperar análises sobre contributos para determinada área. Para mim a função de uma biografia é focar-se no desenrolar da vida de uma personagem eventualmente ligando-a a eventos políticos/históricos se relevante para se compreender a vida da personagem, mas não o contrário. (A não ser que essa personagem tenha tido uma importância direta nesses acontecimentos mas o tom será sempre exclusivamente descritivo, não propriamente analítico.)

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    1. Haha pois, esta é de pessoal inglês mais recente :p

      Sim, percebo isso. Nunca tinha pensado dessa maneira, até porque, lá está, não leio muitas biografias (recomendas alguma?). Mas mesmo que fosse descritivo, gostava de ter percebido um bocado mais o desenrolar da vida de David Bowie como artista, não como indivíduo dotado de um enorme pénis, percebes? É que, de certa forma, focou no contributo dele para a vida sexual de várias pessoas (lol).

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    2. Hahahaha! Pois, estou a perceber. Não sei se tens grande interesse nesse período da história britânica mas acabei agora de ler uma boa biografia de James I, o sucessor da Elizabeth I e o primeiro rei simultaneamente escocês e inglês. O foco é todo na pessoa, na personalidade dele, nos eventos que lhe determinaram a vida, nas suas relações (há poucas dúvidas de que manteve várias relações homossexuais e que tiveram consequências políticas), na sua maneira de ser rei e na sua relação com o parlamento inglês. Teve o montante certo de vislumbres da cena política mas sempre da perspetiva de como a personalidade do rei o levou a agir como agiu (foi ele que semeou a discórdia com o parlamento e portanto a guerra civil que o filho viria a herdar). Mas o mundo das biografias é tão vasto e só há pouco tempo o comecei a explorar...

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    3. Não conheço muito desse período, mas não será por isso que me interessa menos :) vês, aí o foco está na pessoa! Não em órgãos sexuais :x parece sem dúvida uma personagem interessante e um livro com contextos e consequências interessantes. É engraçado como uma pessoa pode ser tão importante que as suas decisões e actos levem a guerras...

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    4. Caramba, era assim tão focado? :x Sim, das biografias que já li esta foi a que gostei mais. Há todo um sem fim de lords, earls, lairds, dukes e raios que os partam (dificultado pelo facto de quando uma pessoa é elevada a uma posição muda o nome, tipo o Lord Suffolk torna-se Earl of Leicester, de maneiras que uma pessoa perde-se um bocado nos jogos de poder das famílias inglesas) mas o livro está bem escrito e a prosa escorre bem, não achei secante. Outra que também gostei porque me deu a conhecer melhor os interesses petrolíferos no Médio Oriente foi a biografia sobre o Gulbenkian, essa li em português: "O Senhor Cinco Por Cento".

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    5. Era um bocadinho demais... tipo às vezes era muito, depois esquecias-te, depois voltava
      Haha essas confusões de nomes, ainda falam dos russos! Irei investigar, sem dúvida. E a do Gulbenkian parece interessante também!

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  3. eu pouco ou nada conheço do artista e depois de ler este livro fiquei a saber que ele era espectacular na cama :D

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    1. Espero que o livro não te tenha demovido de o tentar conhecer mais :) sei pouco, factualmente, sobre ele - e o livro não ajudou por aí além, embora falasse na sua infância, família, e isso -, mas a música dele é da maior inspiração possível!

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  4. Olá Bárbara,
    Adoro biografias e fiquei curiosa com esta. Mas depois comecei a perceber que se focava demasiado num determinado aspecto da vida de cantor. E não era bem isso que queria. Enfim...acho que a vou deixar de parte. Também pelo seu tamanho.
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Isaura, não era um mau livro mas quiçá caísse um pouco na "cusquice", sim :) duvido que seja fácil um livro fazer justiça a David Bowie, no entanto, porque ele foi sem dúvida fenomenal. Beijinhos, boas leituras!

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