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O Quase Fim do Mundo

E se um dia eu desse por mim sozinha, a única forma de vida animal no mundo?


Chamo-me Simba Ukolo, sou africano, e sobrevivi ao fim do mundo.

O livro começa com Simba, médico de 35 anos, o principal protagonista deste livro, a voltar para casa no seu carro e a ver um relâmpago - e a dar por si sozinho numa cidade com dois milhões de habitantes. Nada que seja telecomunicação funciona, roupas e carros abandonados na rua, estará louco? Atravessa a cidade procurando um psiquiatra para a sua condição, já que não pode ser a realidade.

O banco, a estação da polícia, tudo vazio; na Noruega ninguém atende o telefone. Que se passa?

Ao tentar assaltar o terceiro banco, encontra uma senhora de meia idade, Geny, que revela acreditar ser o fim do mundo anunciado na sua dura religião, os Paladinos da Coroa Sagrada. Começam a dar-se bem e a encontrar alguns outros sobreviventes, cada um a lidar com o choque à sua maneira, mas todos em choque. Jude, rapariga precoce de 16 anos (que é das personagens mais incredíveis que já li); Janet, antropóloga norte-americana; Joseph, ex-ladrão; um pescador, um bruxo de fertilidade etíope, um sul-africano de origem holandesa, uma historiadora somali, o sobrinho de Simba, um electricista.

Cada um individual e único, como os poucos animais que vêem, cães, elefantes solitários. Rivalidades étnicas - criadas pelos colonizadores - são ultrapassadas, pois é preciso continuarem juntos para sobreviverem. Precisam das capacidades uns dos outros. Há comida nos vários restaurantes, mas não se sabe quanto tempo irá durar. Não se sabe quanto tempo a electricidade irá durar. E quanto tempo vai a humanidade durar?

Simba começa a ficar obcecado com a vida, com popular o mundo novamente; as poucas abelhas que lhe pousam nos braços são vistas como um milagre. Pares começam a surgir dentro do grupo, num desenrolar que descreve profundamente relações e dinâmicas interpessoais. As relações de cada um com o novo mundo em que se encontram. A pessoa que narra a história muda constantemente, de parágrafo para parágrafo, por vezes na mesma frase. Temos o pensamento de cada um deles.

Mas o que se terá realmente passado? O que foi "a coisa" que exterminou a vida no planeta?

Alguns membros do grupo começam a estudar aviação para se poderem deslocar mais longe, auxiliados de Jan, o supra-mencionado sul-africano (mais uma parte que é demasiado irreal, até mesmo para um livro em que o cenário é um mundo distópico, um fim do mundo). É uma longa viagem, que trará muitas revelações, acima de tudo irónicas. Mais que as relações interpessoais, as relações entre África e o resto do mundo estão no centro do texto, os perigos da religião e do fanatismo.

Talvez um pouco moralista, definitivamente com secções menos bem conseguidas. Não está, na minha opinião, à altura da Parábola do Cágado Velho, mas é um livro interessante.

4/5

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