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The Theban Plays

Voltando aos gregos!


Esta colecção reúne as peças sobre Thebes (Tebas?) de Sófocles, a história de Édipo (doravante conhecido como Oedipus) e a sua família, mais notavelmente a sua filha, Antigone. Uma curiosidade sobre este volume é que coloca as peças por ordem cronológica de acontecimentos, que é praticamente oposta à ordem em que as peças foram escritas (Antigone foi a primeira das três - são portanto um ciclo, e não uma trilogia).

As peças tratam da sociedade ateniense e da sua rápida decadência durante a vida de Sophocles. São peças extraordinariamente ricas na sua observação da condição humana.

Sabia pouco sobre esta tragédia quando a comecei a ler. Tinha total noção do conceito do "complexo de Édipo", que julgo não ter de explicar; o interessante é o contraste entre o mesmo e o desenrolar de Oedipus Rex. O Rei Oedipus vê a sua cidade (cujo reinado ganhou após desvendar a pergunta da esfinge) afligida por uma praga. Creon, irmão da sua esposa, Jocasta, descobre que a praga se dissipará quando for descoberto o verdadeiro homicida de Laius, o rei anterior. Oedipus, como rei preocupado, decide ir numa demanda para descobrir o assassino.

Mas... Laius fora assassinado numa viagem, num cruzamento. Onde se cruzara com um viajante que se dirigia a Thebes para fugir a um prenúncio que dizia que este iria matar o seu pai e casar com a sua própria mãe. Laius e Jocasta tinham tido um filho, que tinham basicamente oferecido/abandonado para não sofrerem uma maldição que dizia exactamente o mesmo, embora Jocasta não acreditasse em predições dessas.

O viajante era Oedipus, que matou Laius.

Jocasta descobre e enforca-se. Oedipus cega-se e vai para exílio com as suas filhas, Antigone e Ismenes.

A questão aqui é que, ao contrário de no complexo freudiano, Oedipus não fazia ideia que Jocasta era a sua mãe, não matou Laius para ficar com ela. Matou um homem que encontrou na estrada por uma questão de quem tinha prioridade (estão a ver aquela gente que conduz e não liga a prioridades e depois saem do carro para discutir? Imaginem uma disputa dessas que acabasse numa morte - foi tipo isso). O casamento e o reinado de Thebes foram-lhe oferecidos pela adivinha da esfinge.

Esta é possivelmente a mais conhecida das três peças, não só pela questão de incesto e homicídio, mas pelo cumprimento de uma profecia que todos tentaram evitar. Não dá para escapar ao destino, não dá para escapar à verdade.

Na segunda peça, Oedipus at Colonus, Oedipus vê como os seus filhos o rejeitam, o que o leva a rejeitá-los. A sua vida é uma tragédia atrás de outra. Oedipus, bem mais velho, exilado, cego, dependente das suas filhas, apercebe-se de que não teve escolha no seu destino - ele é livre porque aceita que não pode mudar nada do que lhe está destinado, nada do que é suposto acontecer. Chega perto de Atenas e conhece Theseus, o governador de Atenas.

Atenas era uma cidade-Estado governada pela razão, pela lei e pela democracia, que vivia ainda assim sob a égide das tradições e a realidade de forças maiores do que aquilo que a razão pode compreender.

Na terceira parte, os dois filhos de Oedipus estão mortos (mataram-se mutuamente em combate), e é o irmão de Jocasta, Creon, que governa Thebes. Creon é um péssimo governador, e isso causa desgraça e desentendimentos entre os interesses familiares e o Estado.

Polynices, um dos filhos de Oedipus, não é merecedor de um enterro, por ter tentado apossar-se da cidade enquanto Eteocles (o irmão) reinava. Quem desrespeitasse esta ordem de Creon seria executado.

Antigone, irmã mais nova, recusa-se a obedecer, e enterra o seu irmão. Creon manda-a prender, sem pensar nas consequências: o seu filho, Haemon, era noivo de Antigone. Quando Creon volta atrás, pensando que talvez a coisa certa seja libertar Antigone, dá-se uma série de suicídios.

O que é a coisa certa a fazer? Seguir a lei, seguir a tradição moral? Qual é a verdade, qual é a sabedoria? Qual é o controlo que temos sobre o nosso destino? O que é que os deuses (ou uma força maior, ou o que quer que seja) podem ter a dizer sobre isso? Há um conflito ao longo das três peças, entre a consciência religiosa tradicional e a questão da cidadania grega, do que é ser um governante.

Esta é uma saga incrível, a história de uma família destinada à desgraça.

5/5

Podem comprar esta edição aqui, ou as várias peças em português aqui.

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