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Uma Questão Pessoal

O primeiro japonês que li (não, nunca li nada do Murakami).


Este livro é aparentemente baseado na vida do autor, Kenzaburō Ōe, vencedor do Nobel da Literatura em 1994, cujo primeiro filho nasceu portador de deficiência. É suposto ser um retrato comovente de um homem que descobre que o seu filho primogénito, recém-nascido após um parto difícil, tem uma deficiência grave, algo que parece ser uma hérnia cerebral.

Para mim, é o retrato de Bird, um homem cobarde e egoísta com tendências alcoólatras que decide começar a trair a mulher e tenta condenar o filho à morte por um problema que, no fim, nem era bem o que se julgava ser, tudo porque a vida familiar parece condenar o seu sonho de ir um dia a África.

Himiko, a mulher com quem ele trai a sua esposa, é uma viúva pseudo-profunda:

Este tipo de divisão universal de células também ocorreu quando o meu marido se suicidou. Eu fiquei para trás no universo em que ele morreu, mas noutro universo, do outro lado, onde ele continua a viver porque não se suicidou, há outra Himiko a viver com ele. O mundo que um homem deixa para trás quando morre, digamos a uma idade muito jovem, e o mundo no qual ele escapa da morte prosseguem. Os mundos que nos contêm estão a multiplicar-se constantemente. E isto é aquilo a que me refiro quando falo no universo pluralístico.

A narrativa é também exageradamente sexual, exageradamente descritiva das traições de Bird à sua mulher (questão que não é sequer adereçada); ele não vai visitar o filho ao hospital, a quem pede dissimuladamente que deixem morrer, não vai visitar a esposa ao hospital, simplesmente vai ter com a amante e passa os dias inteiros com ela a beber e em actos sexuais demasiado descritos. Nada disto é apontado como particularmente anormal, apenas as reacções de um homem assustado. Não. É desprezível e atroz que um homem pense em deixar morrer o seu filho em vez de dar uma hipótese a uma cirurgia que lhe pode salvar a vida, tudo isso para poder fugir com a amante para África, amante essa que nem queria saber de tal continente antes de ver uns mapas que ele tinha comprado.

Bird é uma personagem detestável. Himiko não é muito melhor. Sugere-lhe deixar a criança num tipo que é conhecido por matar crianças indesejadas e fazer abortos ilegais e irem celebrar para um bar gay com o mesmo nome destinado à criança.

 - Que coincidência! Bird, porque é que não vamos a esse bar depois?
(...)
 - Vamos beber toda a noite no bar homossexual Kikuhiko. – disse – Vamos fazer um velório.

Questões morais interessantes, mas não fiquei particularmente impressionada.

3/5

Podem comprar em inglês aqui.

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