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The Hobbit

Só agora chegando à Middle Earth.


Sintam a estética da minha foto a juntar coisas com montanhas, ambas relacionadas de uma forma ou de outra com a pessoa mais especial para mim.

The Hobbit é o primeiro livro do mundo do Senhor dos Anéis, e uma boa introdução a esse mundo. Vi os filmes recentemente, fiquei entusiasmada com o Senhor dos Anéis e decidi comprar os livros. Este é um livro pequeno e engraçado, que o Tolkien desenvolveu contando a história aos seus filhos.

In a hole in the ground there lived a hobbit.

Bilbo Baggins vivia a sua vida pacificamente até ao dia em que foi visitado pelo Gandalf e tiveram esta incrível troca de palavras:

"Good Morning!" said Bilbo, and he meant it. The sun was shining, and the grass was very green. But Gandalf looked at him from under long bushy eyebrows that stuck out further than the brim of his shady hat.
"What do you mean?" he said. "Do you wish me a good morning, or mean that it is a good morning whether I want it or not; or that you feel good this morning; or that it is a morning to be good on?"

E a partir daí a vida pacífica de Bilbo muda para sempre. Nessa noite, é visitado por treze anões, os últimos do seu clã, e Gandalf, e contratado pelos anões para ser o ladrão deles e ajudá-los a resgatar o seu tesouro, guardado por um dragão numa montanha há muito perdida pelos anões. Apesar da sua incapacidade de recuperar o seu tesouro e a sua montanha por si sós, Thorin Oakenshield, son of Thráin, son of Thrór, rei sem terra dos anões, e os seus companheiros, não confiam muito nas capacidades do ladrão que Gandalf lhes indicou - mas Bilbo descobre ao longo do livro tudo aquilo que ele é capaz de fazer e prova várias vezes o seu valor aos anões, valor esse que Gandalf já lhe reconhecia.

É uma história de crescimento pessoal imenso, apesar da natureza do livro: entre a fantasia, a aventura e o humor. Tolkien não leva os seus heróis a sério, mostra um sentido de humor incrível e ao mesmo tempo que conta uma história simples cria um mundo e criaturas míticas com imenso detalhe, com várias raças (Hobbits, Elfos, Trolls, Goblins, Anões, um Homem-Urso, Wargs, Águias gigantes, Aranhas gigantes, Dragões, entre outros), integrando-as na história. O mundo em que a história se passa é levado a sério e construído com a ameaça premente do Anel, as relações entre as várias raças, e outras coisas que se tornam naturais no Senhor do Anéis (já comecei a ler o primeiro).

A certa altura, torna-se aparente que Tolkien gostava de spoilers:

And so they parted. And though the lord of the eagles became in after days the King of All Birds and wore a golden crown, and his fifteen chieftains golden collars (made of the gold that the dwarves gave them), Bilbo never saw them again-except high and far off in the battle of Five Armies. But as that comes in at the end of this tale we will say no more about it just now.

Tipo... o que vale é que vi os filmes antes?

E nesse assunto, alguns comentários:
1) A cena dos trolls teve imensa piada no filme, teve imensa piada no livro, e não são a mesma cena;
2) A única personagem feminina de relevância no filme, a Tauriel (embora só existisse para fazer altos triângulos amorosos com o Legolas e um dos anões), não existe no livro, que é como quem diz, não há mulheres no livro. Não há mesmo nenhuma;
3) O Legolas não existe no livro, só existe nos filmes para fazer ponte com o Senhor dos Anéis e suponho porque era super popular entre as mulheres;
4) O Radagast é apenas mencionado de passagem, não tem altas carroça com coelhos nem aparece sequer, o que até é pena porque aquela carroça dos coelhos era uma pausa;
5) Todo aquele subplot do Gandalf, Elrond, Saruman e Galadriel (outra mulher que não existe no livro) em Dol Guldur não existe também.
Portanto, grande parte dos filmes foi inventada (e não julgo, visto que são nove horas de filme de um livro de nem 300 páginas), misturando partes do livro com os filmes que já existiam. Entretanto descobri que isto aconteceu, e não estou surpreendida.

Mas isto não é sobre o livro, portanto adiante.

Antes da parte sobre a qual o Tolkien nos spoila, temos o encontro entre Bilbo e Gollum, que é a melhor parte do livro, com adivinhas como:
“This thing all things devours:
Birds, beasts, trees, flowers;
Gnaws iron, bites steel;
Grinds hard stones to meal;
Slays king, ruins town,
And beats high mountain down.” 
E descobrimos também como Bilbo encontra o anel, e a sua relação com o mesmo, a forma como o começa a usar para dar melhor uso às suas capacidades e tirar maior proveito das circunstâncias.

Gosto do Gollum. Enquanto via os filmes do Senhor dos Anéis interroguei-me (e à supra-citada pessoa mais especial, que viu os filmes comigo) sobre o seu passado, a sua vida. É possivelmente das minhas personagens preferidas da série, e este livro não mudou isso.

Depois temos o Smaug, o último dos dragões, intimidativo, aterrador, a guardar uma montanha cheia de tesouros há décadas. It does not do to leave a live dragon out of your calculations, if you live near him. E depois BAM é morto com uma simples flecha, graças a uma pequena e conveniente falha na sua... couraça? pele? que um Hobbit que não percebe nada de coisas de guerra ou de dragões decide informar um tipo que não tinha entrado no livro até então. A ameaça presente ao longo do livro é derrotada em meio parágrafo ou algo parecido.

A batalha dos cinco exércitos também ficou resolvida em coisa de dez páginas, mas o Peter Jackson decidiu fazer um filme todo forçado a partir daí.

Agora que estou nas críticas: demasiadas canções. Demasiadas. Percebo que anões cantem, percebo que o Tolkien achasse piada, mas a certa altura quase parecia um musical manhoso. Também não conseguia distinguir bem os anões uns dos outros, não percebo o porquê de haver treze quando nenhum fez nada de particularmente memorável e um deles é apenas (e frequentemente) distinguido, de forma bastante cruel, por ser gordo. Espero que o Gimli salve o bom nome dos anões nos livros seguintes.

Mas gostei muito do final do livro, muito mais que do do último filme.

The Hobbit é uma história de aventura simples, e é uma boa história. Mas para além disso, apresenta-nos heróis improváveis, fala de fraquezas humanas (e não só humanas, pois estão presentes nas outras raças). Estamos habituados a heróis bonitos e fortes e... heróicos, com virtudes exaltadas e qualidades imensas, com poderes sobre-humanos. Aqui temos heróis pequenos, banais e fracos. E cinquentões, embora a ideia de idade na Middle Earth e para os Hobbits seja algo diferente da nossa. Sempre gostei do Batman por não ter acesso a super poderes, ao contrário dos outros super-heróis conhecidos - mas o Batman tinha acesso a tecnologias várias, e era fisicamente forte. Aqui temos anões e um Hobbit, ainda mais pequeno que os anões, que encontra fortuitamente um anel, e que até aí se teve de servir da sua inteligência. Claro que Bilbo também tem características exageradas - mas não são aquelas que estamos habituados a ver. Ele é leal e humilde e simples, é simpático com quem se cruza, faz sempre aquilo que lhe parece acertado, sacrifica-se e salva os anões frequentemente sem querer nada em troca, e não quer saber de riquezas, nem da sua percentagem do tesouro. Junta-se aos anões por nascer nele a vontade da aventura:

Then something Tookish woke up inside him, and he wished to go and see the great mountains, and hear the pine-trees and the waterfalls, and explore the caves, and wear a sword instead of a walking-stick.

E quão melhores são essas qualidades que aquelas encontradas nos heróis típicos, a força, a destreza física, as capacidades de batalha?

4/5

Podem comprar esta edição aqui, a boxset que eu tenho com Hobbit + LOTR aqui, ou em português aqui.

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