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The Yellow Wallpaper

Esta é uma edição com sete short stories, mas vou-me focar naquela que dá o título ao livro.


Escrito em 1892, The Yellow Wallpaper é um conto sobre Jane, uma mulher com um qualquer distúrbio mental, possivelmente depressão pós-parto (uma criança é mencionada), casada com um médico. Este, do alto da sua profissão, decide o que é melhor para ela, proíbe-a de trabalhar, de ler, escrever (algo que ela faz pela calada, sendo este conto uma espécie de diário), ter visitas, fazer o que quer que seja minimamente estimulante, e cuida da doença dela fechando-a e isolando-a num quarto no andar de cima de uma mansão rural que alugaram por uns meses, durante o verão.

O marido convence-a de que está num quarto que fora outrora para crianças; porém, as janelas do quarto têm grades (legítimo, certo), o chão está arranhado, o papel de parede amarelo e doentio está rasgado em várias partes, a cama está pregada ao chão/parede, há marcas na cabeceira da cama e há argolas de metal presas na parede. O topo das escadas está também vedado, de modo a que só o marido pode controlar os seus movimentos para além daquele quarto - esta era claramente uma divisão utilizada para fins semelhantes, não para crianças, mas uma prisão.

Mas Jane não se importa com o facto de não poder sair do quarto. Importa-se, sim, com o papel de parede do mesmo, num péssimo tom de amarelo, com um padrão irregular e confuso.

I never saw a worse paper in my life.
One of those sprawling flamboyant patterns committing every artistic sin.
It is dull enough to confuse the eye in following, pronounced enough to constantly irritate and provoke study, and when you follow the lame uncertain curves for a little distance they suddenly commit suicide - plunge off at outrageous angles, destroy themselves in unheard of contradictions.
The color is repellent, almost revolting; a smouldering unclean yellow, strangely faded by the slow-turning sunlight.
It is a dull yet lurid orange in some places, a sickly sulphur tint in others.
No wonder the children hated it! I should hate it myself if I had to live in this room long.

Mais que isso, Jane não o questiona. Ele é o marido dela, ele é médico, ele saberá melhor que ela.

If a physician of high standing, and one's own husband, assures friends and relatives that there is really nothing the matter with one but temporary nervous depression - a slight hysterical tendency - what is one to do?
My brother is also a physician, and also of high standing, and he says the same thing.
So I take phosphates or phosphites - whichever it is, and tonics, and journeys, and air, and exercise, and am absolutely forbidden to "work" until I am well again.
Personally, I disagree with their ideas.
Personally, I believe that congenial work, with excitement and change, would do me good.
But what is one to do?

Imaginem-se limitados a um quarto, sem ninguém com quem falar, sem qualquer tipo de ocupação. Isto leva Jane a enlouquecer ainda mais, criando uma obsessão com o papel de parede e começa a ver uma mulher no seu padrão irregular, tendo vontade de o arrancar. Quando Jane interioriza o seu ódio pelo papel de parede, a sua vida torna-se very much more exciting now than it used to be. O marido, entretanto, manda-a dormir durante o dia todo e acha que ela está a melhorar, desconhecendo que ela fica toda a noite acordada a olhar para a mulher que a vê do papel de parede.

I didn't realize for a long time what the thing was that showed behind, that dim sub-pattern, but now I am quite sure it is a woman.
By daylight she is subdued, quiet. I fancy it is the pattern that keeps her so still. It is so puzzling. It keeps me quiet by the hour.

No final, Jane só se sente segura naquele quarto, tranca-se lá, morde a cabeceira da cama e rasga o papel, ‘I’ve got out at last,’ said I, ‘in spite of you and Jane. And I’ve pulled off most of the paper, so you can’t put me back!’. Mas o que acontece a seguir é mais ambíguo - assim como grande parte da história. Estará ela realmente a enlouquecer? Seria este o seu destino se não fosse trancada num quarto sem qualquer coisa para fazer? O seu marido importa-se realmente, quererá ajudá-la, ou quererá apenas aprisioná-la?

A parte mais aterradora é que a autora, Charlotte Perkins Gilman, escreveu este conto da sua própria experiência pessoal. Tendo tido problemas semelhantes, foi-lhe proibida a leitura e a escrita, foi vedada num quarto sem a possibilidade de interacção social ou estímulo intelectual. Por ser uma mulher, ninguém quis saber o que se passava, o que a afectava - foi tudo reduzido a histeria. Da mesma maneira, as ideias de Jane sobre a sua recuperação são vistas como irracionais e rapidamente postas de lado. A vitória de Jane sobre o marido vem às custas da sua sanidade mental.

John laughs at me, of course, but one expects that in marriage.

Isto não é só sobre uma mulher a enlouquecer lentamente: é sobre como as mulheres eram tratadas na altura (factor comum às outras histórias nesta edição), sobre a falta de liberdade, a falta de possibilidade de se defenderem, a submissão a que eram sujeitas. E sexismo continua a ser um problema.

4/5

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